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ESTAVA SEMPRE TENSO E RECEOSO - JN

Escrito por a Insolvência Imprimir

Tudo começou, com uma dívida fiscal de quatro mil euros a que não sabia estar obrigado. Ricardo (nome fictício) recorreu ao crédito e resolveu o problema. Meses depois, o filho, adolescente, teve de ser sujeito a uma cirurgia. Recorreu de novo ao crédito. "Um tratamento caro, que o Estado não comparticipa". Designer gráfico numa empresa de Comunicação Social, Ricardo confrontou-se ainda com mais um tratamento a que a mulher, deficiente motora, teve que se submeter e consultas de Psicologia para a filha, de 10 anos. Juntou-se o aumento vertiginoso das taxas de juros.

Passados 3 anos, começou a perceber que estava com dificuldades em suportar os encargos. Pediu uma segunda hipoteca da casa, mas disseram-lhe que não. Em final desse ano foi despedido. "Não queria entrar naquela onda de execuções e penhoras. É péssimo para os miúdos....

Foi por acaso que deu com o blogue de Luís Martins, entrou no fórum nele instalado e começou a ler relatos de pessoas na mesmíssima situação. Em Março desse ano, foi ao escritório do advogado. Mas só em Novembro se decidiu a avançar com o processo.

"Há uma ideia errada. A ideia de que as pessoas pedem, pedem, pedem para viver à grande e à francesa. Eu nunca fui de luxos. Além dos primeiros empréstimos, os outros que contraí foi para os pagar, para alimentar a bola de neve".

Ficou a dever cerca de 100 mil euros nestes créditos, mais outros 100 mil da casa. Total: 200 mil euros. Entregou a casa e propôs um plano de pagamento. Cem euros por mês, durante sete anos. Não foi declarado insolvente (nesta modalidade não há sentença de insolvência) e, depois de arrendar casa, vai tentar abrir a sua empresa de designer gráfico. "Sinto que agora me posso dedicar a isso; antes estava sempre nervoso, tenso e receoso", diz, aliviado por ter recorrido ao pedido de insolvência. "Não tem que ser um estigma; pior é deixar ir até às últimas consequências sem fazer nada", aconselha Ricardo, que aceitou contar a sua história para ajudar quem está na mesma situação, mas recusou dar nome ou deixar-se fotografar.

CLARA VASCONCELOS - Entrevista Jornal de notícias